
EMI Music Portugal / Departamento de Promoção
Maio de 2008
Se pedíssemos a cada um dos ouvintes de Mariza uma palavra, uma só, para descrever o sentimento que os invadem quando a escutam, certamente preencheríamos páginas e páginas que, mesmo descontadas eventuais repetições, ganhariam a riqueza e a dimensão de um dicionário. O que, por um lado, testemunha a riqueza vocabular da Língua Portuguesa e, por outro, serve como prova de que o público que a acompanha, por cá e lá por fora, se tem multiplicado em todas as direcções, cada vez mais independentes de idades e geografias, de escolas de gosto e declarações de rendimentos. Em sete anos, Mariza conquistou, à força de alma e de garganta, de disciplina e de trabalho, o estatuto das grandes cantoras universais – Amália, Piaf, Elis, Ella, Garland e mais uma mão-cheia de mulheres a quem basta um nome para o reconhecimento imediato e entusiasmado. É nosso dever, e é nossa salvação, aprender a partilhá-la. Amarrá-la a uma só forma, mesmo que ela tenha os contornos de grandeza e arrepio do nosso Fado, seria criminoso, por toda a grandeza desperdiçada sem préstimo. Melhor é deixá-la voar livremente, para termos a certeza de que volta a casa. Eis o código de acesso, as ilimitadas fronteiras, o perfil psicológico de “Terra”, o novo disco, o primeiro de um novo ciclo, a primeira obra-prima de uma respiração diferente.
Mariza precisa de uma só palavra para explicar o sucedido e o resultado: “verdade”. Senão vejamos: “Em sete anos consecutivos de tournée internacional, além de levar a minha música, fui tendo contactos com culturas e estéticas diferentes. Fui ouvindo e entendendo. Fui assimilando até chegar aqui, a este ponto que é, neste momento, a minha verdade. Ora, se eu fui sempre verdadeira com o público e comigo própria, não havia razão para que este disco não desse conta da evolução que eu fui sofrendo, como cantora e como pessoa. Senti o “Transparente” como o fim de um ciclo, depois sublinhado com o “Concerto Em Lisboa”. A este chamei-lhe “Terra”, não só porque continuo a ter os pés bem assentes nela, mas também pela ideia de viagem, de percurso, de roteiro. Era inevitável, depois de ir andando tanto pelo mundo…”.
Talvez nos tenhamos esquecido que antes da Mouraria houve Moçambique e que, depois do bairro, chegaria a vez do Mundo. Por outras palavras, Fado, sim, sempre; mas porquê ficar por aí? Lá por fora, o comodismo era outro: o Fado, como todas as músicas de maior ou menor acento étnico, ia parar ao grande cesto da World Music que, de resto, valeu os primeiros prémios a Mariza. World Music ou Música(s) do Mundo. Não é mais nem menos do que a cantora reclama agora, com este “Terra” prometido. Sem esquecer a ideia e a prática de Miguel Torga: “Ando, dou a volta ao mundo, mas acabo por vir dormir aqui”.
O que acontece em “Terra” é um convite da guitarra portuguesa e da viola de Fado à guitarra de um inglês, Dominic Miller (parceiro de Sting há vinte anos), aos pianos de um brasileiro, Ivan Lins, e dois cubanos, Chucho Valdês e Ivan “Melon” Lewis, à guitarra flamenca de um espanhol, Javier Limón, à percussão de outro espanhol, Piraña (percussionista eleito de Paco De Lucia). O que se passa em “Terra” é a comunhão perfeita da voz de Mariza com as do cabo-verdiano Tito Paris e da afro-hispânica Concha Buika. O que tem lugar em “Terra” é a passagem de testemunho do produtor, facto que parece quase um requisito de Mariza, para evitar repetições: depois de Jorge Fernando veio Carlos Maria Trindade, rendido por Jacques Morelenbaum, para agora entrar em cena Javier Limón. No lugar da comodidade, aqui viaja-se nos braços do desafio. E, no entanto, quem ouvir esta aventura quase ecuménica que envolve o flamenco e a morna, que tem perfumes de jazz, que passa pela canção clássica e que não desdenha o folclore, perceberá que o elo de ligação teima em ser português e de arrepio, chamem-lhe Fado ou apenas Mariza.
“Terra” é um disco português, para o Mundo. Em cada um dos 14 andamentos que o compõem, sente-se que as sementeiras já deram fruto. E como diz a protagonista desta colheita de excepção, “as flores é que não têm que ser todas da mesma cor”. Nem podiam: grande é a viagem que aqui se concentra e incentiva. Tão grande que vale a pena evocar Jorge Amado – tal como o seu livro, esta obra mostra uma “Terra” do sem fim.
01. JÁ ME DEIXOU
(Artur Ribeiro/ Max)
02. MINH´ALMA
(Paulo de Carvalho)
03. ROSA BRANCA
(José de Jesus Guimarães/ Resende Dias)
04. RECURSO
(David Mourão-Ferreira/ Tiago Machado)
05. BEIJO DE SAUDADE
(B.leza)
06. VOZES DO MAR
(Florbela Espanca/ Diogo Clemente)
07. FRONTEIRA
(Pedro Homem de Melo/ Mário Pacheco)
08. ALFAMA
(Ary dos Santos/ Alain Oulman)
09. TASCO DA MOURARIA
(Paulo Abreu Lima/ Rui Veloso)
10. ALMA DE VENTO
(Diogo Clemente/ Dominic Miller)
11. SE EU MANDASSE NAS PALAVRAS
(Fernando Tordo)
12. AS GUITARRAS
(Ivan Lins)
13. PEQUENAS VERDADES
(Javier Limón)
14. MORADA ABERTA
(Carlos Tê/ Rui Veloso)
Maio de 2008
Se pedíssemos a cada um dos ouvintes de Mariza uma palavra, uma só, para descrever o sentimento que os invadem quando a escutam, certamente preencheríamos páginas e páginas que, mesmo descontadas eventuais repetições, ganhariam a riqueza e a dimensão de um dicionário. O que, por um lado, testemunha a riqueza vocabular da Língua Portuguesa e, por outro, serve como prova de que o público que a acompanha, por cá e lá por fora, se tem multiplicado em todas as direcções, cada vez mais independentes de idades e geografias, de escolas de gosto e declarações de rendimentos. Em sete anos, Mariza conquistou, à força de alma e de garganta, de disciplina e de trabalho, o estatuto das grandes cantoras universais – Amália, Piaf, Elis, Ella, Garland e mais uma mão-cheia de mulheres a quem basta um nome para o reconhecimento imediato e entusiasmado. É nosso dever, e é nossa salvação, aprender a partilhá-la. Amarrá-la a uma só forma, mesmo que ela tenha os contornos de grandeza e arrepio do nosso Fado, seria criminoso, por toda a grandeza desperdiçada sem préstimo. Melhor é deixá-la voar livremente, para termos a certeza de que volta a casa. Eis o código de acesso, as ilimitadas fronteiras, o perfil psicológico de “Terra”, o novo disco, o primeiro de um novo ciclo, a primeira obra-prima de uma respiração diferente.
Mariza precisa de uma só palavra para explicar o sucedido e o resultado: “verdade”. Senão vejamos: “Em sete anos consecutivos de tournée internacional, além de levar a minha música, fui tendo contactos com culturas e estéticas diferentes. Fui ouvindo e entendendo. Fui assimilando até chegar aqui, a este ponto que é, neste momento, a minha verdade. Ora, se eu fui sempre verdadeira com o público e comigo própria, não havia razão para que este disco não desse conta da evolução que eu fui sofrendo, como cantora e como pessoa. Senti o “Transparente” como o fim de um ciclo, depois sublinhado com o “Concerto Em Lisboa”. A este chamei-lhe “Terra”, não só porque continuo a ter os pés bem assentes nela, mas também pela ideia de viagem, de percurso, de roteiro. Era inevitável, depois de ir andando tanto pelo mundo…”.
Talvez nos tenhamos esquecido que antes da Mouraria houve Moçambique e que, depois do bairro, chegaria a vez do Mundo. Por outras palavras, Fado, sim, sempre; mas porquê ficar por aí? Lá por fora, o comodismo era outro: o Fado, como todas as músicas de maior ou menor acento étnico, ia parar ao grande cesto da World Music que, de resto, valeu os primeiros prémios a Mariza. World Music ou Música(s) do Mundo. Não é mais nem menos do que a cantora reclama agora, com este “Terra” prometido. Sem esquecer a ideia e a prática de Miguel Torga: “Ando, dou a volta ao mundo, mas acabo por vir dormir aqui”.
O que acontece em “Terra” é um convite da guitarra portuguesa e da viola de Fado à guitarra de um inglês, Dominic Miller (parceiro de Sting há vinte anos), aos pianos de um brasileiro, Ivan Lins, e dois cubanos, Chucho Valdês e Ivan “Melon” Lewis, à guitarra flamenca de um espanhol, Javier Limón, à percussão de outro espanhol, Piraña (percussionista eleito de Paco De Lucia). O que se passa em “Terra” é a comunhão perfeita da voz de Mariza com as do cabo-verdiano Tito Paris e da afro-hispânica Concha Buika. O que tem lugar em “Terra” é a passagem de testemunho do produtor, facto que parece quase um requisito de Mariza, para evitar repetições: depois de Jorge Fernando veio Carlos Maria Trindade, rendido por Jacques Morelenbaum, para agora entrar em cena Javier Limón. No lugar da comodidade, aqui viaja-se nos braços do desafio. E, no entanto, quem ouvir esta aventura quase ecuménica que envolve o flamenco e a morna, que tem perfumes de jazz, que passa pela canção clássica e que não desdenha o folclore, perceberá que o elo de ligação teima em ser português e de arrepio, chamem-lhe Fado ou apenas Mariza.
“Terra” é um disco português, para o Mundo. Em cada um dos 14 andamentos que o compõem, sente-se que as sementeiras já deram fruto. E como diz a protagonista desta colheita de excepção, “as flores é que não têm que ser todas da mesma cor”. Nem podiam: grande é a viagem que aqui se concentra e incentiva. Tão grande que vale a pena evocar Jorge Amado – tal como o seu livro, esta obra mostra uma “Terra” do sem fim.
01. JÁ ME DEIXOU
(Artur Ribeiro/ Max)
02. MINH´ALMA
(Paulo de Carvalho)
03. ROSA BRANCA
(José de Jesus Guimarães/ Resende Dias)
04. RECURSO
(David Mourão-Ferreira/ Tiago Machado)
05. BEIJO DE SAUDADE
(B.leza)
06. VOZES DO MAR
(Florbela Espanca/ Diogo Clemente)
07. FRONTEIRA
(Pedro Homem de Melo/ Mário Pacheco)
08. ALFAMA
(Ary dos Santos/ Alain Oulman)
09. TASCO DA MOURARIA
(Paulo Abreu Lima/ Rui Veloso)
10. ALMA DE VENTO
(Diogo Clemente/ Dominic Miller)
11. SE EU MANDASSE NAS PALAVRAS
(Fernando Tordo)
12. AS GUITARRAS
(Ivan Lins)
13. PEQUENAS VERDADES
(Javier Limón)
14. MORADA ABERTA
(Carlos Tê/ Rui Veloso)