Mensagem da Mariza

Meus queridos amigos.
É para mim um privilégio poder contar com o vosso carinho e atenção.
Não existem palavras para agradecer a forma maravilhosa como me tratam!
Sinto-me muito lisonjeada por tudo o que me têm oferecido ao longo deste pequeno percurso.
Penso que a palavra OBRIGADA não chega para tanta dedicação e amizade. Mas neste momento é a unica que sei! OBRIGADA a todos os que tornam os meus sonhos possíveis.
Até breve. Com o maior respeito e carinho,
Mariza

Isto sou EU!

entrevista de Carlos Vaz Marques
realização de Filipe Carriço / fotografias de Ricardo Quaresma
Elle, Outubro de 2008


Ao longo das últimas duas décadas, Mariza deixou o anonimato e tornou-se na artista portuguesa com mais projecção internacional. O mundo a seus pés.
Continua a lavar roupa nos hotéis onde pernoita. É um pequeno segredo anti-stress que nem nos quartos mais fency põe de lado. Tem a vantagem adicional de lhe permitir percorrer o mundo com muito pouca bagagem. A actual digressão de Mariza vai durar, desta vez, um ano. Só nos Estados Unidos passará três meses. Uma longa permanência em que vai avaliar se é desta que se estabelece em Nova Iorque. A ideia não é nova e ganha agora mais força do que nunca. Ao quarto disco, Terra, a cantora que faz questão de nunca se referir a si própria como fadista, tem definitivamente a terra toda como palco.

Quando olha para trás que momento elege como o mais determinante para ter chegado onde chegou?
Acho que todos os momentos foram importantes. Mas acho que um dos pontos fundamentais é a perseverança, a vontade de vencer e o orgulho no que faço. A princípio eu não queria nada. Eu olhava e dizia: «Que giro o que me está a acontecer». Depois comecei eu própria a pensar: «Já que cheguei até aqui porque é que não vou até ali?». Mas vivo um dia de cada vez. Preparo-me para que as coisas aconteçam, mas estou sempre de pé atrás. Só acreditei que ia aparecer no programa do David Lettermann quando comecei a cantar. Eu já lá estava há horas, mas a pensar: daqui a pouco vem alguém bater à porta do estúdio e dizer-me que vou ser trocada porque chegou a Madonna.

Receia despertar de repente e ver que era tudo um sonho.
Pois. Isto é tudo um bocado efémero.

Sente isso de uma forma permanente?
Eu não gosto de me iludir. Quando as pessoas diziam todas: «Vai ganhar o Grammy.» Era uma ilusão. Estar nomeada já era importantíssimo. Já era uma vitória. E ninguém percebeu isso.

Em que medida é que a sua imagem, para além da própria música, foi importante para o seu processo de afirmação?
Sinceramente, eu nunca vi nenhum cantor que não tivesse imagem. Todos os artistas têm uma imagem. Eu não sou excepção.

Há alguns em que ela é mais marcante ou mais personalizada no âmbito da música que cantam.
Acho que todos têm uma imagem personalizada. Há umas pessoas que se destacam mais, outras que se destacam menos.

A Mariza destaca-se, por isso lhe fiz a pergunta.
Acho que isso tem a ver com o estilo de música que eu canto. As pessoas estão habituadas a uma imagem para esse estilo de música. Gostam de ter a casa arrumada e com tudo compartimentado. Eu talvez fuja um pouco a essa imagem que as pessoas têm de quem canta este género musical. Mas isto sou eu.

E isso foi importante?
Não. Amanhã se eu quiser mudar...

Não digo para si...
Para o público?

Para fora, para a afirmação da sua personalidade artística.
Não me parece. Acho que as pessoas primeiro ouvem a música. Nós podemos ter uma imagem genial, mas se a música não for boa não vale a pena. Neste momento eu luto para que as pessoas oiçam mais a música do que se preocupem com a imagem. Eu sou assim. Isto não é estudado. É a minha forma de estar.

Nunca ninguém a aconselhou a ter um visual mais clássico?
Não. Nem eu deixaria.
Qual é a memória mais antiga que tem do fado?
É de quando tinha cinco anos. Recordo-me que no restaurante dos meus pais havia uns domingos fadistas, umas tertúlias. A minha mãe não me deixava ver e eu ficava à espreita.

Ela achava que o ambiente não era próprio para uma menina?
Sim. Mas eu fugia e ficava à espreita, a ouvir tudo.

Com que imagens é que ficou desses momentos?
As imagens eram poucas. Eu era muito pequenina e não conseguia ver. Estava sempre à espera da resposta da guitarra à voz. Às vezes ficava completamente desligada da voz. Ficava só a ouvir a guitarra. O som era lindo. O ambiente era todo escuro. Tinha muito fumo. Eu não via nada.

Eram apenas vultos, vozes...
E a guitarra. O som da guitarra era fantástico.

Isso já foi depois do 25 de Abril, num momento em que o fado não estava no seu ponto alto. Como é que os seus pais se aventuraram, no restaurante, a organizar essas tertúlias fadistas?
Sabe, nos bairros típicos nunca se deixou de cantar fado. Havia sempre uma casinha, uma taberna, um espaço onde se cantava.

Quem é que cantava?
Ah, na altura aparecia toda a gente. Mesmo pessoas que diziam: «Ah, não, não vou ao fado...».

Eram cantores populares?
Eram amadores ali do bairro ou que vinham de outros bairros. Mas depois também apareciam fadistas profissionais. Eram os casos de Fernando Maurício, do Artur Batalha. Eram profissionais já tinham discos e apareciam muito lá em casa. Também apareciam poetas, actores do Parque Mayer. Na altura, o Parque Mayer ainda funcionava. Era um ambiente muito diversificado.

O que é que se comia no restaurante dos seus pais?
Os pratos típicos que se comem nos sítios normais de fado: caldo verde, bacalhau assado, bitoques, bifanas. Coisas normais.

O toque africano da sua mãe não ia para a cozinha?
Nessa altura ainda não. Isso foi mais tarde.

Depois dessas primeiras experiências, como começou a cantar?
Eu comecei a dizer ao meu pai que queria cantar. O meu pai adora fado. Mas só ouve homens. Essa é a pior parte.

Imagino que agora abre uma excepção para si.
Sou a única mulher que ele ouve. Só gosta de ouvir homens. É uma chatice. De vez em quando zangamo-nos um com o outro. «Mas porque é que não ouves isto?». «Porque eu não gosto».

E gosta de a ouvir a si?
Gosta, mas é muito crítico. É um terror, mesmo. Com o fado há brincadeiras. «Ah, não gostei muito. O guitarrista fez não sei que mais». «Mas tu agora és músico?» «Mas eu sei, já oiço fado há muitos anos». Ele tem lá os seus padrões. Mas foi o meu pai um dos grandes culpados por eu começar a cantar fado.

Foi ele que a pôs a cantar?
Foi. Eu comecei a achar muita piada e a pedir: «Ah, eu também gostava de cantar». O meu pai, à noite, ficava acordado e gravava temas da rádio e no dia seguinte mostrava-mos. «Gostas deste fado?» «Gosto». Obviamente, coisas muito leves. Eu ainda não lia, nessa altura. Então, ele começava a desenhar-me o poema e eu começava a aprender os poemas pelos desenhos que ele fazia.

Como é que se desenha a palavra saudade, por exemplo?
Ah, ele desenha muito mal. Mas eu não cantava poemas fortes. Cantava o Ó ai ó Linda, que fala de Lisboa: “Lisboa nasceu / o galo cantou / Lisboa cresceu / O tempo parou”.

Ele desenhava-lhe então o galo?
Lá vinha um galo. Lisboa, recordo-me disso, eram umas casinhas. Também cantei Os Putos. Então, ele desenhava um menino com uma bola, um charco. Depois, tinha a preocupação de gravar uma cassete só com um fado, mas repetido, sempre o mesmo fado. Eu, à noite, deitava-me, com uns headphones sempre a ouvir o mesmo fado. No dia seguinte, já o sabia.

Ele queria que a Mariza fosse fadista.
Eu acho que ele adora. Agora, é um dos seus maiores orgulhos.

Ainda guarda alguns desses desenhos ou perderam-se todos?
Não. Perderam-se. Ele desenhava mal, deitávamos fora.

Seria engraçado reconstituir esses seus fados de infância recorrendo aos desenhos do seu pai.
Era. Mas eu posso-lhe pedir para ele voltar a desenhar, porque ele não mudou a forma do desenho. O traço é igual.

Qual é o fado mais antigo que se lembra de ter cantado?
Os Putos. No fado vadio há sempre um apresentador e eu recordo-me de me apresentarem como: O Passarinho. Então lá vinha eu com um xaile pequenino que me ofereceram.

Gostava ou ia com medo?
Adorava. Era o meu momento de vitória. Chegar ali e cantar. Eu acho que não cantava nada de jeito. Não me recordo.

Ninguém gravou nenhuma dessas suas primeiras actuações?
Não há nada. Que pena. Nem fotos, nem gravações. Nada. Mas lembro-me de ir, uma vez, a uma casa de fado, no Bairro Alto, onde cantava o filho do Alfredo Marceneiro. Ele costumava frequentar a casa dos meus pais. «Ah estás aqui? Hoje vais cantar». E lá fui eu, já numa casa profissional. Toda a gente achou muita piada: «Olha, o pirralho aqui a cantar, o passarinho».


Mas na adolescência, de repente, teve uma crise de vocação.
Isso foi porque os amigos gozavam comigo. «Cantas fado?!» Era uma vergonha. Eu não tinha vergonha no bairro, continuava a cantar para os amigos do bairro e para as vizinhas e a fazer concertos na rua. Mas no liceu não me atrevia a cantar. Comecei a perceber do que é que eles gostavam: Rolling Stones, Supertramp.

Começou a cantar música pop.
Comecei a cantar as coisas de que eles gostavam.

Depois disso virou-se para os blues e para o jazz.
Mas isso, depois, já foi uma pesquisa minha. Comecei a perceber que havia uma Ella Fitzgerald, uma Nina Simone, uma Billie Holiday. Comecei a ouvir, a gostar e a cantar.

Cantava em bares e restaurantes.
Bares, restaurantes, casino, clubes. Tudo.

Não é frustrante?
Nada. É uma coisa fabulosa. Um dia destes ainda hei-de juntar os amigos todos e fazer uma noite dessas.

Estar a cantar enquanto as pessoas bebem copos e conversam…
Nunca pensei nisso. É giro.

Nunca pensou que não lhe estavam a dar atenção?
Não. Eu cantava. Sabe, para mim, cantar é uma felicidade tão grande que mesmo que não me estejam a ligar nenhuma eu continuo a cantar. Não tenho esse problema.

E como é que foi parar ao Brasil, entretanto?
Isso do Brasil já foi uma loucura minha. Tenho uns amigos brasileiros que me disseram «Nós vamos para o Brasil, vamos cantar num navio, queres vir?» «Ah, eu vou», respondi. Disse à minha mãe: «Amanhã vou para o Brasil». Ela achou que eu estava a brincar. No dia seguinte viu-me a arrastar uma mala para o táxi…

Percebeu que era a sério.
«Onde é que vais?» «Vou para o Brasil». Isto parece uma cena de filme, mas é verdade. «Para o Brasil?!» «Pois, tenho aqui o bilhete». Eu já tinha vinte e um anos.

Foi no Brasil que redescobriu o fado?
Pediam-me para cantar Nem às Paredes Confesso, Foi Deus, Coimbra. Eu cantava, mas sempre com uma sensação de terror. Sabe, eu passei muitos anos da minha vida a ouvir os fadistas tradicionais e quando cantava não me conseguia identificar com aquela forma de canto. Eu sentia que não era igual. Achava que se não cantava daquela forma estava mal. Então, cantava com muita vergonha. Mas cantava porque adorava.

Quando é que perdeu a vergonha?
Perdi a vergonha depois do primeiro disco.

Só?
Só. Sempre com muito medo e sempre a achar que ia ser acusada de não ser… Percebe? De não pertencer ali, ao meio. De não ser do fado. Afinal não. Enganei-me.

Gosta da ideia de que o fado tem uma raiz africana?
Eu gosto dessa ideia, porque tenho raízes africanas.

Nasceu em Moçambique.
Sim. Portanto, bate tudo muito certo.

Isso ajuda-a a identificar-se com o fado?
Eu nasci em África, mas não tenho grandes ligações a África. Saí de lá aos três anos, muito pequena. Não tenho recordações. A primeira vez que voltei a África foi horrível.

Horrível em que sentido?
Eu tinha crescido na Europa, estava habituada a ter tudo.

Com que idade é que lá voltou?
Com dezoito anos. Quando fui a Moçambique (estou a falar do princípio dos anos noventa), estava a terminar a guerra. Era um país onde faltava tudo. Não havia água, electricidade, o elevador não funcionava. Não havia os meios básicos. Não havia leite…

Foi um choque.
Foi. Foi horrível. E não me consegui identificar.

As suas raízes, no entanto, estão espalhadas por esse mundo fora. Tem ascendência indiana, alemã, espanhola…
Por parte do meu pai nota-se perfeitamente essa mistura. É muito alto, tem quase um metro e noventa, tem olhos verdes e é loiro. Não tem nada a ver com o português normal. E na minha mãe também se vêem as misturas porque é uma mestiça escura, de cabelo preto liso e olhos negros. Nota-se a mistura indiana.

Também sente o fado como uma música mestiça?
Sim, também. Muito. Aliás, não há músicas puras. Nem a música clássica é pura.


O FADO DELA
Tudo começou apenas há sete anos. O primeiro disco de Mariza tornou-se em pouco tempo disco de ouro. De Fado em Mim, o disco de estreia, a Terra, o mais recente, editado em Julho, vai o longo trajecto do anonimato para a fama mundial. Aos 36 anos, Mariza é a artista portuguesa mais conhecida no estrangeiro. Nasceu em Lourenço Marques, Moçambique, mas foi na Mouraria que cresceu entre fado e sardinhas assadas. Em 2003 ganhou o prémio de World Music da BBC. No ano passado foi a primeira artista portuguesa nomeada parta um Grammy.

Campo Pequeno_3



FOI DEUS
(Alberto Janes)

Mariza no Campo Pequeno
Concerto de homenagem a Amália Rodrigues: Amália à l’Olympia
Lisboa, Portugal / 11 de Dezembro de 2008

Mariza visita Nueva York

de Pablo Calvi
www.co.terra.com, 3 de Febrero de 2009


Si el portugués es ya de por sí una lengua dulce, ni que hablar de lo bello que suena en los labios de Mariza, la nueva dama del fado. Claro que el ritmo, esa mezcla urbana de guitarras, voz y sentimiento que hasta no hace demasiado palpitaba puertas dentro del mundo lusoparlante, brilló con luz propia gracias a la impecable Amalia Rodrígues. Pero desde su muerte en 1999, la tradición se hizo esperar y la sucesión en el trono de una de las músicas urbanas europeos más bellas y melancólicas recién llegó en 2002 con Fado em Mim, un álbum que Mariza ni siquiera había pensado editar.

”Creo que son tantos los herederos de Amalia Rodrígues como quienes conviven en los géneros que se nutren del Fado", afirma la cantante desde Lisboa mientras se prepara para un tour que la traerá hasta Nueva York el 28 de Febrero. "El fado es una música de tanto pero tanto sentimiento y pasión que se puede ver su impronta en géneros como el tango, la bossa Nova; es una música con la que te muestras al desnudo", asegura.

El romance de Mariza con el fado comenzó relativamente tarde. Nacida en Mozambique, se radicó con su familia en Lisboa antes de cumplir tres años. "Nos mudamos a un barrio muy tradicional de aquí y fue ahí en donde comencé a escuchar Fado, aunque no a cantarlo". Con su flamante Terra, que se lanzará en Estados Unidos a fines de Febrero pero que ya ha sido nominado para un Grammy Latino al mejor disco folk, sumado a un Grammy Latino en el haber por su Concierto en Lisboa, Mariza sin embargo no se considera una fadista. "Me honra que me llamen así, pero yo soy más bien una cantante que interpreta el Fado" ser fadista es mucho más que eso y no sé si estoy a la altura de que me llamen así; de hecho yo me formé escuchando Ella Fitgerald, Frank Sinatra y una gran variedad de géneros populares que no necesariamente tienen que ver con el Fado".

Sin embargo, en 1999 y luego de un impasse que la llevó hacia las arenas del pop y del jazz, Mariza volvió decidida a embarcarse en la tradición. "Les decía a mis amigos que un día iba a ir a tocarle la puerta a Amalia para decirle lo mucho que la admiraba y cuánto influyó su música en que yo comenzase a apreciar más la tradición de música portuguesa" pero lamentablemente ese mismo año ella murió y yo me lamento por no haberme decidido a hacer lo que tantas veces prometí".

Entre las promesas de Mariza hay una que asegura jamás va a quebrar. "Creo que es tan pero tan importante la autenticidad cuando uno está trabajando este género, que no sé si podría subirme a un escenario sólo porque tengo que hacerlo. Creo que no podría, me sentiría vacía" y claro, eso en cualquier género puede notarse más o menos, pero en una música tan espiritual como ésta, es casi vital que las emociones estén ahí".

Por ello, anticipando una gira que la llevará al borde del agotamiento ("llegamos a tocar nueve noches consecutivas, va a ser muy demandante", confiesa) Mariza asegura que comenzará a revisar lo antes posible su rutina para el año que viene. "Ya no soy tan joven y este es un esfuerzo muy pero muy grande, que hago para honrar a mis aficionados en Estados Unidos, pero creo que a partir de 2010 sólo iré a tocar de vez en cuando y a los lugares con los que realmente sienta una gran afinidad".