"Sou muito dura"

de Lia Pereira
Revista Blitz, 29 de Novembro de 2010

Em entrevista à BLITZ, "dama de ferro" do fado explica por que razão é tão exigente. Esta noite, Mariza atua no Coliseu de Lisboa. Em entrevista à BLITZ de dezembro, já nas bancas, Mariza apresenta o novo disco, Fado Tradicional , e levanta um pouco o véu sobre a sua personalidade exigente e "dura".

"Tinha que ser um bocadinho mais suave comigo, e com os outros também, principalmente com as pessoas que trabalham comigo e que são grandes sofredores", disse.

"Sou exigente comigo, não só musicalmente. Sou exigente todos os dias: com a minha forma de estar, com a forma como lido com as outras pessoas, com a educação que recebi em casa. Talvez seja um bocadinho antiquada demais, e isso faz com que seja muito dura".

Mariza atua no Coliseu de Lisboa hoje (29 de novembro) e amanhã (30 de novembro), em promoção do novo Fado Tradicional .

Para ler a entrevista na íntegra e a crítica ao novo álbum, consulte a BLITZ de dezembro, já nas bancas.

Mariza com novo disco no Coliseu dos Recreios

www.hardmusica.pt, 29 de Novembro de 2010


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Logo após a saída o álbum é já Disco de Platina, à Lusa fonte da EMI-Music Portugal afirmou “ter já [o CD] em armazém e dado o fantástico concerto no Coliseu do Porto, decidimos antecipar a saída e é já disco de platina”.

Mariza afirmou que o álbum - pelo qual se diz apaixonada - “foi feito na estrada” conforme o músico Diogo Clemente, que a acompanha à viola, foi insistindo com ela para cantar melodias de fados tradicionais.

“Uma coisa eu sabia: queria cantar os fados Sérgio e o Carlos da Maia de Sextilhas”, disse a fadista. O facto de ter escolhido o poema de Jorge Fernando, “Boa noite solidão” (Carlos da Maia de Sextilhas), criado por Fernando Maurício com quem conviveu e de quem foi amiga, e este ser “um poema masculino”, não foi obstáculo para a fadista. “Para mim o amor não tem sexo, e canto o que gosto”, frisou.

A fadista reconheceu que o disco a obriga “a encarar uma realidade que é a minha Mouraria, a taberna dos meus pais, toda a minha infância e adolescência, e aquilo que faz de mim a cantora que sou hoje”.

Mariza referiu que teve de se confrontar com a memória de quando cantava e lhe diziam que era diferente e “sentia que não estivesse a fazer bem, sentia-me um pouco mais desconfortável nesse ambiente”.

O álbum é hoje a “menina dos seus olhos” e com ele ter “exorcizado tudo”, além de ter sido “muito prazeiroso” tê-lo feito. “Cantei feliz da vida”, rematou.

“Desde ‘Fado em mim’ [primeiro álbum] que sempre quis fazer um disco de fado tradicional”, disse a fadista que referiu ainda que tinha “dado já uma pista no álbum ‘Terra’” [o anterior].
Mariza refere-se ao tema “Tasco da Mouraria”, um tema que dedicou aos pais no álbum anterior. Todavia, realçou, “não me queria expor a toda a gente, serem essas memórias partilhadas por todos”. E lançou uma outra pista: “quem me conhece sabe que há neste álbum, tem havido em todos, mas há neste fados que são extremamente reveladores”.

Citou as letras de Diogo Clemente – “Mais uma lua”, no Fado Varela, e “Desalma”, no Fado Alberto – “que são a doer”. “Ele conhece-me bem e quando os canto não é de ânimo leve”, disse.

“O Diogo, um dos mais experientes jovens produtores de fado é muito conhecedor e curioso como músico talentoso, e é muito experimentalista”.

Diogo Clemente, o “grande cúmplice” da fadista neste álbum, assina a produção, acompanhando-a também à viola ao lado de Ângelo Freire (guitarra portuguesa) e Marino de Freitas (viola baixo).

Para a intérprete, “Fado Tradicional” é “o contrapondo ideal ao anterior ‘Terra’” com o qual esteve três anos em digressão, terminado um ciclo que iniciou há oito anos com “Fado em mim”.

“Retomo Fernando Pessoa, com umas quadras que o Diogo e eu encaixámos as quadras [“Dona Rosa” no fado Bailarico de Alfredo Marceneiro], António Botto [“Meus olho que por alguém” no Fado Menor do Porto de Cavalheiro Jr.], e regresso às origens que me levaram ao fado, à viagem e a ter contacto com outras sonoridades que me desassossegam a alma”.
À Lusa, a fadista afirmou que agora “não tem que provar nada e antes agradecer a todos os mestres” que teve e que lhe ensinaram “mesmo sem o saberem”.

“‘Fado Tradicional’ é uma homenagem a Lisboa, ao meu bairro e às vozes da minha infância”.

"Estou sempre em competição com os meus limites"

de João Marcelino
Diário de Notícias, 28 de Novembro de 2010
Vídeo da entrevista disponível
AQUI.
















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Em menos de uma década, Mariza transformou-se numa grande artista à escala global. Com ela, o Fado, mesmo quando "Tradicional", não é um lamento triste e vestido de negro, ganha cor, tem coreografia, uma dimensão que pode ser, e é, exportável - como no tempo de "dona Amália", de quem será eterna admiradora mas de quem não quer ser, percebe-se, um produto derivado. Nesta entrevista, na semana do lançamento do seu quinto trabalho (que já esgotou o Coliseu do Porto, e amanhã e terça-feira pode ser visto no de Lisboa), Mariza desvenda um pouco da mulher, por detrás do mito em construção.

Este disco, que é o quinto de estúdio, regressa às raízes, ao chamado fado tradicional. Não teme que seja visto como um passo atrás?
Não, nada, muito pelo contrário. Quando fiz o meu primeiro disco, há dez anos, depois de perceber que as pessoas o tinham recebido bem - porque nunca foi uma ideia minha pôr este disco, o primeiro disco, à venda por uma editora, era uma edição para eu oferecer à família, ao meu pai, aos amigos...

Está a falar do Fado em Mim?
Do Fado em Mim. Nunca me passou pela cabeça poder fazer um percurso tão fantástico, como o que vejo agora, passados dez anos. E foram dez anos muito rápidos! Mas quando editei esse primeiro disco, prometi a mim mesma que um dia faria um disco só de fados tradicionais. O tempo foi passando, eu fui respeitando as bases e as tradições daquilo que eu conheço como fado e fui fazendo um fado já muito pessoal, com um cariz muito próprio.

Não será, portanto, uma resposta a quem a acusou de desvirtuar o fado tradicional?
Não, nada disso! Este disco foi feito durante os três anos de tournée do disco anterior, Terra. Trabalhava comigo o Diogo Clemente, que eu considero "o" produtor de fado da nova geração, que, durante as viagens, me dizia "Canta aí um fado tradicional". E eu fui cantando. No fim deste Verão, praticamente no final da tournée, dizem-me "Temos de fazer um disco." Eu não tinha nada preparado! Então mostrei os fados tradicionais que andei a cantar durante aqueles três anos. No fundo, este disco acaba por ser um reviver das minhas memórias da infância e da adolescência. Durante as gravações, eu por vezes fechava os olhos e parecia que voltava à minha taberninha da Mouraria, à casa dos meus pais.

Algum dos fados é original?
Não. São todos tradicionais! Alguns poemas é que foram escritos para mim, outros são os que eram tradicionalmente cantados.

De início cantou fado. Depois, recebeu influências da música latina, da brasileira, da africana - o que é natural, porque nasceu em Lourenço Marques. Esse primeiro disco ficou muito marcado, também, por ter canções de Amália; era uma responsabilidade muito grande. Quis sair desse espaço para se demarcar da conotação com aquela que era, até aqui, a grande diva da música portuguesa?
E será sempre! Não é? É incrível, assim que chega uma voz nova a cantar fado, vem logo a comparação: Amália. Eu acho que a comparação, quase sempre, é uma forma de elogio. Comigo foi assim que aconteceu.

Mas a determinada altura isso apoquentou-a...
A determinada altura deixou-me um pouco inquieta. Será que eu não ia conseguia ter uma personalidade própria e descolar da imagem que as pessoas tinham de Amália - porque Amália morrera, pareciam querer repor uma imagem... Será que eu não conseguia ser eu própria? Depois de dez anos, acho que consegui.

Por isso este interregno? Andou por outros caminhos, agora já volta sem que seja essa a opinião pública?
Nunca deixei de cantar um fado que Amália tivesse cantado sempre que senti vontade. A prova disso está em todos os meus discos; têm sempre um fado que foi popularizado pela voz de Amália. Quando eu faço um disco, não é a pensar se vai ser comercial, se vai vender muito, se tem muito Amália; faço-o a cantar aquilo de que eu gosto e de que sinto vontade. Depois de gravado, oiço e sinto orgulho naquilo que fiz; sinto que está bem feito, gosto de ouvir aquilo que cantei. Também oiço muito pouco... tenho de ser sincera.

Ainda se enerva?
Bastante!

Com o quê, por exemplo?
Eu imponho regras a mim própria e aos meus limites. E estou sempre em competição. Tenho a alma muito inquieta e quero fazer as coisas o mais perfeito que sei. Mas não existe música perfeita. Eu sei que não existe. Mas eu quero fazer perfeito, quero fazer bem. É terrível.

Ensaia e prepara cada espectáculo?
Não. Por exemplo, o Terra era preparado porque foi apresentado em Portugal antes de a tournée sair para o mercado internacional e, aí, ensaiei com os músicos. Neste disco, a apresentação mundial e oficial será feita em Portugal, e estamos a preparar o concerto que será apresentado depois.

Até que ponto é exigente com as pessoas que trabalham consigo?
Muito! Coitados... Muito!

Qual o número de colaboradores que tem para materializar os seus espectáculos?
Para este disco? Tenho três músicos em palco, dois engenheiros de som, um engenheiro de iluminação e uma pessoa que viaja connosco e nos vai abrindo caminho antes de chegarmos; prepara o teatro e todas aquelas coisas que são necessárias para que tudo corra o melhor possível.

Gasta muito tempo em pesquisa, a ler coisas, a pensar "isto podia dar uma canção"?
Eu gosto muito de ler. Tenho uma tristeza imensa porque eu não tenho o dom da escrita. Também não tenho muito o dom da palavra, mas da escrita então ainda é pior. Eu adoraria saber escrever. Como não sei, tenho de recorrer à poesia, tenho de recorrer a cantautores portugueses, como por exemplo ao Rui, que é compositor, não é autor, ao Carlos Tê, ao Paulo de Carvalho, ao Sérgio Godinho. Todos eles me vão oferecendo um bocadinho da sua arte.

São eles que a procuram?
Eu vou procurando... Muitas vezes são eles que se lembram de mim, carinhosamente, e trazem coisas. Vão oferecendo um bocadinho do mais precioso que têm, que é a arte deles, e eu vou recebendo da melhor forma que sei. Espero ter estado sempre à altura.

Já lhe devem ter feito esta pergunta muitas vezes... Quando é que decidiu que queria mesmo ser cantora, sobretudo fadista?
Acho que nunca decidi, acho que o destino decidiu por mim. Sabe que o meu primeiro brinquedo foi o fado? Eu não me lembro do meu primeiro brinquedo, do primeiro boneco, do primeiro livro, mas lembro-me do primeiro fado.

Que era?
Os Putos, do Carlos do Carmo.

Um jornal inglês, o The Guardian, considerou-a uma diva da música do mundo. Sente que já ocupa na cena internacional o mesmo lugar dos grandes cantores?
Não sei. Acho que tem de perguntar isso às pessoas que vêm aos meus concertos.

Isso não é excesso de humildade?
Eu acho que não. Acho que cada pessoa sente à sua maneira. Eu não sinto isso, não consigo sentir, não consigo perceber. É-me difícil olhar e dizer "Eu sou." Ainda não consigo fazer isso.

Mas não se sente, sequer, um bocadinho embaixadora da cultura portuguesa?
Eu sinto-me um bocadinho embaixadora. Sinto-me uma ponte entre culturas e fico muito orgulhosa de poder fazê-lo. E nos últimos cinco anos tenho sentido que as pessoas vêm assistir ao meu espectáculo, com o meu nome.

Em Portugal? Também no estrangeiro?
Em Portugal e no estrangeiro.

É mais fácil aqui ou lá fora?
É igual.

Acha que o fado é um produto bom para exportação ou de fácil exportação? Para si tem sido, é isso que me está a dizer por gestos... (risos) ... Mas a música sai, as pessoas gostam. Nunca teve resistências lá fora? Como é que a recebem?
Muito bem! Ainda há pouco, e é um dos casos de que eu tenho vindo a falar, estive na Roménia e, pela primeira vez, fui à capital, Bucareste. Eu tenho sempre o cuidado de perguntar se tudo está a correr bem, se estão contentes, como é que corre a venda dos bilhetes, e, na noite em que cheguei, disseram-me "Está muito bem." Eu fiquei a pensar: "Bem, é a primeira vez que venho a Bucareste, não sei o que é que vai acontecer... vou esperar por amanhã." No dia seguinte, chego ao teatro - que era gigante, tinha 4400 lugares, ou uma coisa assim - e eu fiquei a olhar para aquilo e pensava"Meu Deus! Estou pela primeira vez em Bucareste, quem é que vem assistir ao meu concerto?" Chega a hora do espectáculo, entro em palco. Estava esgotadíssimo: gente nas escadarias, nas fileiras, já não havia mais onde se sentar. E o incrível nisso tudo não é o estar esgotadíssimo. Desde o primeiro ao último fado, conheciam, cantavam em português. E era público local, público romeno. Conheciam os fados. E eu fui recebida como se estivesse em Portugal. Isso é que é incrível.

Tem alguma polémica em curso com os puristas do fado?
Eu? Não! Porque é que havia de ter?

Nunca sentiu dos intérpretes do fado tradicional alguma resistência quanto aos caminhos para onde estava a levar a canção?
Isso é um problema deles, não é meu.

Hoje a sua música é conhecida e apreciada em Portugal, mas foi uma editora holandesa, a World Connection, que primeiro demonstrou interesse pelo seu trabalho. Não havia naquela altura mercado para o fado em Portugal?
O mercado do fado talvez não fosse...

Rentável...?
Não sei se posso dizer rentável... Mas talvez também possa dizer rentável. Acho que não era tão aberto naquela altura como é hoje. Eu não me consigo incluir. Depois de dez anos, não estou nem na nova geração, nem na geração mais antiga; estou ali no limbo. Mas há dez anos, quando cheguei com o meu primeiro disco, não existia uma abertura tão grande para se ouvir fado. Hoje, passados dez anos, fico muito feliz. Não sei se fui eu que abri algumas portas; espero que tenha sido, fico muito contente se isso aconteceu. Mas, dez anos depois, sinto que há uma geração que gosta muito de fado, que quer cuidar, estudar, proteger esta cultura, esta música.

E vêm ter consigo?
Eu não apareço muito. Como embaixadora da candidatura do Fado, um dos meus pelouros é mostrar o fado no mercado internacional. Daí eu passar muito pouco tempo em Portugal. Venho a Portugal mais na altura do Verão, faço cá concertos. Vou aparecendo, vou à Tasca do Chico, às vezes passeio pelo Bairro Alto, mas talvez não esteja cá tanto tempo que dê para que haja...

Já agora, quanto tempo por ano é que passa em Portugal? E no estrangeiro?
No estrangeiro, seis a sete meses por ano.

O sucesso em Portugal torna-se mais fácil depois de o conseguir lá fora?
Não sei, porque o meu começou primeiro aqui. Começou em Portugal por causa, infelizmente, da morte de Amália. Eu apareço nos coliseus, e depois toda a gente começa a falar, começa-se a criar o passa-palavra...

Ainda a conheceu?
Não, infelizmente não. Adoraria tê-la conhecido. Aliás, eu nessa altura tinha voltado a cantar fado, cantava no Senhor Vinho, e todos os dias dizia "Um dia destes, vou a casa de Amália, bato à porta e digo 'Dona Amália, eu gosto tanto de si, ensine-me qualquer coisa.'" Mas isso nunca aconteceu.

Carlos do Carmo, Carminho, Ana Moura, Camané, Ricardo Ribeiro. Tem boas relações com estas pessoas, conversam? São seus amigos? Como é este meio?
O fado é uma tradição oral - não há escolas e a tradição passa dos mais velhos para os mais novos -, e o Carlos é um professor. Eu adoro ficar sentada, assim num bom jantar, e ter o Júlio Pomar e o Carlos do Carmo. Dantes, ainda tinha o meu querido amigo Raul Solnado e fazíamos umas tertúlias. Eu ficava a noite toda a ouvir contar histórias, a falarem sobre poetas, escritores; eram umas noites maravilhosas. Mas de vez em quando ainda acontece. A Carminho, oiço-a cantar desde o princípio, antes de toda a gente começar a falar da Carminho, e acho que ela canta maravilhosamente bem.

Aí a professora é você?
Eu?! Não. A professora foi a mãe dela. A Teresa Siqueira canta há muitos anos, e a Carminho teve ali uma belíssima professora. Além disso, a mãe dela teve uma casa de fado, portanto, a escola dela de fado é uma escola muito real, muito verdadeira. O Ricardo Ribeiro, conheci--o há pouco tempo e adoro a voz dele. Falamos imenso, ele dá-me conselhos, eu oiço... porque ele também vem do fado muito tradicional, do fado mais puro. São pessoas que estão dentro do meu círculo de amigos, com quem converso, oiço, falo. É muito bom.

A sua amizade com o arquitecto Frank Gehry vem de onde? Foi ele que criou o espaço onde cantou, no Porto, e vai cantar em Lisboa?
Criou a taberna, sim. O Frank Gehry apareceu num concerto que eu fiz no House of Blues, em Los Angeles.

Veio ter consigo?
Sim. Ele bateu à porta, e eu naquele dia estava um pouco enervada. Abri a porta e ele perguntou: "Olá, o Pedro está?" E eu disse "Não, o Pedro não está" e fechei a porta. Chega um amigo meu, que faz rádio, e pergunta-me "Sabes quem é que tens à tua porta? O Frank Gehry!" "É impossível", respondi. E ele insistiu, "A sério que é o Frank Gehry!"... A partir daí surgiu uma amizade.

Portanto, mandou-o chamar?
Não, ele estava à porta! Surgiu uma amizade. Mas antes do Frank Gehry, quem começou a ouvir a minha música foi a mulher dele, a Berta, que era fã e, por consequência, leva o marido. Fomos ficando amigos. Depois de um concerto que fiz em Los Angeles, estávamos a jantar e diz-me ele assim: "Eu vou fazer uma taberna para ti." Eu comecei a rir e disse-lhe "Olha, a tua agenda não permite e a minha também está louca, portanto vamos tirar essa ideia da cabeça." Passado um ano e meio, regresso a Los Angeles, e quando chego ao Walt Disney Concert Hall, tinha uma taberna preparada; foi a surpresa dele para mim.

Como a vida lhe tem corrido bem, também não seria pelo preço que não compraria a ideia de Frank Gehry...
Não tem nada a ver com preço. Tem a ver com amizade, com carinho, com respeito, com a admiração que temos um pelo outro!

Não se queixa daquilo que a música lhe tem dado, económica e financeiramente?
Não. Não me posso queixar. Se eu me queixasse, estava a ser muito injusta.

Considera-se uma mulher rica?
De espírito, sim. Tenho a alma sempre cheia.

Falou-me há pouco de alguns dos concertos que deu por todo o mundo. Há algum que a tenha marcado mais?
Ah, são vários!

Desses que fez em Londres, nos Estados Unidos, em Paris, nas grandes cidades mundiais?
Esse do Frank Gehry foi fantástico porque foi um presente; eu não estava à espera que ele mudasse o teatro todo por uma noite, só para mim. Acho que é fantástico.

Mudou como?
Mudou tudo! Mudou o chão, as paredes, construiu mesmo uma taberna, a sério. Foi fantástico, foi lindo. A noite que eu fiz no Royal Albert Hall, com os meus amigos - os músicos portugueses que eu respeito e admiro -, foi fantástica. O concerto que eu fiz com a ajuda do meu querido amigo Jaques Morelenbaum, aqui na Torre de Belém, foi uma noite maravilhosa.

O Transparente?
Sim. Passa um bocadinho por todos os meus discos mas acaba no Transparente, porque era o último disco que eu tinha feito. Foi uma noite fantástica, que resultou num CD e num DVD. Foi fantástico, adorei. Não sei, há tantas... Olhe, a primeira vez que pisei o Carnegie Hall.

Que também tem um DVD?
Não, no Carnegie Hall não tenho. Tenho na Union Chapel, em Londres. As tournées nos Estados Unidos são extremamente caras, porque é preciso pôr muito da nossa força de vontade e do nosso poder económico para lá chegar... Há bocado falava sobre o meu poder económico: é todo investido na música que faço.

Mas depois tem retorno...
Tem retorno da forma mais fantástica, que é poder fazer concertos nessas grandes salas. Depois, são as salas que me chamam! Eu faço uma tournée, pago-a do meu bolso, os directores dos teatros passam a conhecer-me e depois começam a convidar-me. É assim que funciona.

Ou era assim que funcionava e hoje já não precisa disso?
Não, continua a ser. Com um espectáculo novo, os directores dos teatros têm de ver o que é, ou então não apostam. "Sim, nós conhecemos, nós gostamos, mas o que é o concerto novo, em que é que se baseia?" Podem ouvir falar, mas querem sempre ver. Nesta música, mais de raiz, mais cultural, tem de haver sempre um esforço da parte do artista para querer mostrar a sua música. Não é tão fácil como se julga. Há pouco falávamos dos concertos... Na primeira tournée que eu fiz nos Estados Unidos, passei à porta do Carnegie Hall e disse "Gostava tanto de ver este espectáculo! Mas não tenho dinheiro, não vale a pena. Fica para outra vez." Então, o meu manager disse-me que aquele era um dos maiores teatros de Nova Iorque. E eu respondi "Olha, fica para a próxima", não pensando que um dia eu pudesse fazer concertos no Carnegie Hall. E a primeira vez que pisei o palco do Carnegie Hall, foi com uma sensação fantástica, de dizer "Atingi um patamar de que nem eu estava à espera". E estas são pequenas vitórias que se vão conquistando, que têm um peso enorme na minha vida, que trazem uma felicidade enorme. Mas a felicidade do ser humano é feita de patamares, e eu quando atinjo um, já quero ver qual será o próximo.

Mariza agraciada pelo Governo Françês

Agência Lusa, 26 de Novembro de 2010

Mariza é agraciada no dia 7 de Dezembro pelo Governo francês com a Ordem das Artes e Letras, no grau Chevalier, por ser uma das «fadistas mais notáveis da sua geração», segundo fonte diplomática.

A mesma fonte acrescentou que a condecoração, decidida pelo ministro da Cultura, Frédéric Mitterrand, distingue Mariza como«uma das fadistas mais notáveis da sua geração».

«Entre a tradição e a modernidade, Mariza modernizou o fado, sendo uma grande representante de Portugal no mundo», adiantou á Lusa a fonte diplomática.

A condecoração será entregue à fadista pelo embaixador da França em Lisboa, Pascal Teixeira da Silva, no dia 07, às 18:30, na legação diplomática gaulesa, em Santos-o-Velho.

A condecoração, uma das mais altas distinções do Governo da França a cidadãos estrangeiros, reconhece «o seu talento como cantora e a forte presença em palco», acrescentou a mesma fonte.

Mariza edita hoje «Fado Tradicional», o quinto álbum de estúdio, e que atingiu já o galardão de platina, por vendas superiores a 20 000 unidades, informou hoje a editora discográfica.

Maria atua segunda e terça-feira no Coliseu de Lisboa, depois de ter actuado quinta-feira no Porto.

A intérprete de "Cavaleiro Monge" (Fernando Pessoa/Mário Pacheco) tem sido distinguida com vários galardões, entre eles a comenda da Ordem do Infante, entregue pelo presidente da República Jorge Sampaio em 2006.

Criada em 1957, a ordem honorífica francesa distinguiu já vários portugueses, entre eles, os escritores Lídia Jorge e António Lobo Antunes, o comendador Joe Berardo, o ensaísta Eduardo Lourenço, o editor Manuel Alberto Valente, o jornalista Carlos Pinto Coelho e o encenador Joaquim Benite.

Mariza ganhou no ano passado o Globo de Ouro de Melhor Intérprete Nacional, que tinha já recebido em 2006 pelo álbum «Transparente».

O álbum «Terra», editado em Junho de 2008, foi considerado em 2009 um dos dez melhores do mundo na área da world music por três publicações britânicas - as revistas Songlines e UnCut e o jornal Sunday Times - e recebeu uma nomeação para os Prémios Grammy latinos.
A fadista conquistou, entre outros, os prémios BBC Radio 3, na categoria de Melhor Artista da Europa de World Music, em 2003, o European Border Breakers Award, no MIDEM, e Urso de Prata no Festival de Cinema de Berlim, na categoria de Melhor Música de Filme, por «Ó Gente da Minha Terra» (Amália Rodrigues/Tiago Machado) no filme «Isabella» de Pang Ho-Cheung.

Mariza arrasou Coliseu do Porto

de Chintya Valente
Diário de Notícias, 27 de Novembro de 2010

'Fado Tradicional', quinto disco da cantora, foi apresentado em ambiente de emoção. Segue-se Lisboa.

Foi com Loucura que Mariza abriu o concerto de quinta-feira à noite, no Coliseu do Porto, num serão de recorte intimista, mas acompanhado por uma sala lotada de fãs.

A fadista apresentou o seu novo disco - lançado precisamente ontem - Fado Tradicional, em que decidiu abrir a caixa de recordações. E foi isso que ela própria sublinhou. "Este disco é feito de memórias da infância, da adolescência, da taberna dos meus pais, da Mouraria...", confessaria no decorrer da noite, marcada por uma forte emoção.

Mariza não partilhou apenas com o público do Porto as lembranças de uma vida. Contou também com a presença de cerca de 20 amigos, que estavam sentados no palco, em mesas semelhantes às da taberna dos pais, segundo explicou.

O espectáculo, denominado Tasca de Mariza, tinha, aliás, um cenário (desenhado pelo arquitecto canadiano Frank Gehri) bem diferente do usual, repleto de amigos que puderam interagir com a fadista ao longo da noite. Mariza presenteou-os com músicas cantadas numa proximidade tremenda, que levou a muitas lágrimas, principalmente quando os primeiros versos de Chuva se fizeram ouvir.

Os novos temas foram "recebidos" com o mesmo entusiasmo pelo público do coliseu. A resposta seria dada em aplausos efusivos e deu mostras de que Fado Tradicional, o seu quinto álbum de estúdio, tem todos os ingredientes para ser um novo sucesso.

Fado Vianinha, Meus Olhos Que por Alguém ou Ai Esta Pena de Mim foram algumas das novas canções que Mariza levou à plateia do coliseu portuense. A fadista levou também o tema Promete Jura, que interpretou com Artur Batalha, a quem teceu elogios sentidos. "O Artur é grande e faz parte da minha caixa de memórias", referiu em palco.

A fadista confessou ainda que foram os fãs a ajudá-la na escolha do alinhamento do espectáculo. "Perguntei no Facebook o que vocês queriam ouvir esta noite. Estiveram cá todos os temas mais pedidos, falta apenas um", partilhou.

Ó Gente da Minha Terra, o tema mais votado pelos admiradores na Internet, acabaria por marcar o fim do concerto. Para o fazer com a proximidade prometida, Mariza desceu do palco, cantou, abraçou e cumprimentou dezenas de pessoas, com o coliseu em pé, arrasado por tanta emoção no adeus à Cidade Invicta.

O Coliseu dos Recreios, em Lisboa, é agora a próxima paragem da fadista, que tem agendados dois concertos para domingo e segunda-feira.

Mariza interpreta fados tradicionales en su nuevo disco

www.efeme.com, 26 de Noviembre de 2010

En su quinto disco en estudio, la cantante portuguesa Mariza interpreta fados tradicionales. “Fado tradicional” ha sido producido por Diogo Clemente y contiene composiciones del poeta Fernando Pessoa, Amália Rodrigues y Diogo Clemente, entre otros. El disco será publicado, en Portugal, el 29 de noviembre.

1. ‘Fado Vianinha – Fado Vianinha’ – (Francisco Viana)
2. ‘Promete, Jura – Fado Sérgio’ – (Maria João Dâmaso / Sérgio Dâmaso)
3. ‘As Meninas dos Meus Olhos – Fado Alfacinha’ – (Fernando Pinto Ribeiro / Jaime Santos)
4. ‘Mais Uma Lua – Fado Varela’ – (Diogo Clemente / Reinaldo Varela)
5. ‘Dona Rosa – Fado Bailarico’ – (Fernando Pessoa / Alfredo Marceneiro)
6. ‘Ai, Esta Pena de Mim – Fado Zé António’ – (Amália Rodrigues / José António Guimarães Serôdio)
7. ‘Na Rua do Silêncio – Fado Alexandrino’ – (António Sousa Freitas / Joaquim Campos)
8. ‘Rosa da Madragoa – Fado Seixal’ – (Frederico de Brito / José Duarte)
9. ‘Boa Noite Solidão – Fado Carlos Da Maia’ – (Jorge Fernando)
10. ‘Desalma – Fado Alberto’ – (Diogo Clemente / Miguel Ramos)
11. ‘Meus Olhos Que Por Alguém – Fado Menor do Porto’ – (António Botto / José Joaquim Cavalheiro Jr.)
12. ‘Promete, Jura – Fado Sérgio’ – (Maria João Dâmaso / Sérgio Dâmaso)
Temas extra de edición especial:
13. ‘Olhos da Cor do Mar – Fado Amora’ – (João Ferreira-Rosa e Óscar Alves / Joaquim Campos)
14. ‘Lavava no Rio, Lavava – Fado Lavava No Rio, Lavava’ – (Amália Rodrigues / Fontes Rocha)

"A plateia não é público, são amigos"

Jornal de Notícias, 25 de Novembro de 2010

Uma homenagem às memórias de infância que lhe mostraram o caminho que a levaria aos palcos de todo o mundo, assim é o novo trabalho discográfico de Mariza.

Chamou-lhe "Fado tradicional" e, nas suas palavras, é um regresso à taberna dos pais, e à Mouraria tal e qual como a conheceu. O disco, o quinto em quase 10 anos de carreira, estará à venda a partir da próxima segunda-feira. O novo trabalho terá direito a apresentação formal ao vivo nos coliseus, hoje, quinta-feira, no Porto e dia 29 e 30 em Lisboa.

Com "Fado tradicional" assume um regresso às raízes do fado. Porquê?
Acho que nunca me afastei das raízes do fado. Todos os meus discos foram feitos a respeitar as tradições e as bases do fado.

Quando lançou o primeiro disco, "Fado em mim", esperava ter chegado onde chegou?
O meu primeiro álbum foi baseado muito em temas que também ouvia cantar na taberna dos meus pais. Fiz o disco para oferecer ao meu pai. Não tinha sequer a pretensão de, alguma vez, fazer digressões e pisar palcos. Dez anos depois de tudo ter acontecido volto às minhas memórias de infância e de adolescência. E é isso que exploro no novo disco "Fado tradicional". Evoco as vozes que por ali passaram, os fados que me ficaram na memória, as ruas do meu bairro, a Mouraria.

Para este registo recuperou também importantes nomes do fado, Alfredo Marceneiro, Amália Rodrigues...
Sim, é verdade. Mas no caso de Amália, aparece muito mais tarde na minha carreira, apesar de as pessoas sempre acharem que eu cantei Amália a vida toda. Mas não foi assim. O meu pai é um apaixonado por fado cantado por vozes masculinas. Durante muitos anos ouvi apenas essas vozes entre elas as do Fernando Maurício, do Artur Batalha, do Fernando Farinha.

Foram então essas vozes iniciais que começou por homenagear em "Fado tradicional"?
Sim. Portanto, neste disco, uma vez que Fernando Maurício já não está cá para nos encher a alma com a sua voz, fui buscar o fado por ele popularizado, "Boa noite solidão", que, incrivelmente, é um tema escrito pelo Jorge Fernando, que foi o produtor do meu primeiro disco. E, depois, escolho o Fado Sérgio com a letra "Prometo jura", que ouvia o Artur Batalha cantar na minha casa.

Como foi agora partilhar precisamente este tema com ele?
Para mim foi um privilégio. Sentir a evolução da vida na voz dele, o choro, as lágrimas, o sofrimento, a alegria, é tudo muito forte.

Vai apresentar este disco pela primeira vez esta noite no Coliseu do Porto. Como vai ser o espectáculo?
Em palco recrio uma taberna com a ajuda de um cenário concebido pelo meu amigo Frank Gehry. Já que a taberna dos meus pais não existe, e como não posso trazer a Mouraria para cima do palco, então fazemos uma taberna mais estilizada. Esta ideia surge porque, com este disco, preciso criar uma intimidade maior com o público. Preciso de estar mais próxima, de sentir as minhas memórias para poder cantar. Por isso é que também há pessoas sentadas no palco. Gosto quando as pessoas interagem e quando podemos criar mais intimidade. Para mim a plateia não é público, são amigos.

O que mudou em si desde o lançamento do primeiro disco?
Estou mais velha, mais atenta, mais cansada também. Raramente oiço os meus discos. Mas, há uns dias, tive a curiosidade de ir ouvir o "Fado em mim". Ouvi-o e a voz era-me completamente estranha. É uma voz de quem não tinha a tarimba de tantos palcos, tantas viagens, tantos concertos. Hoje oiço-me aqui, neste "Fado tradicional" e a minha voz tem mais grão, está mais pesada.

No fado de abertura do novo disco canta "devagar devagarinho se vai ao longe". Mas, no seu caso, tudo aconteceu muito rápido, não foi?
É verdade. Perdi a noção do tempo nesta viagem. Foram 10 anos fantásticos, maravilhosos. Tive oportunidade de pisar grandes palcos, de fazer grandes amigos, de partilhar música, de mostrar a minha cultura a outra gente e a outros povos que não a conheciam. De mostrar o orgulho que tenho pelo meu país, pelos poetas que canto, pela língua portuguesa.

Nestes 10 anos qual é o fado que mais reflecte o que a Mariza é?
Como sou eu que faço pesquisa poética e trabalho directamente com os letristas e compositores, todos os temas que canto expressam muito daquilo que sou. Por isso, é muito difícil escolher apenas um fado que diga o que sou. Há vários.

O regresso à Lisboa de conforto

de Davide Pinheiro
Diário de Notícias, 24 de Novembro de 2010

Na última década, Mariza cruzou o fado com outras linguagens. 'Fado Tradicional' devolve-a às raízes.

A primeira década de Mariza enquanto fadista de dimensão mundial foi marcada pelas múltiplas viagens que a levaram a percorrer milhares de quilómetros por via aérea. As digressões que a tornaram num dos nomes maiores do circuito world music foram também possíveis devido à mestiçagem de culturas que suavizaram o impacto de um estilo tão português quanto o fado com públicos de diferentes sociedades.

Fado Tradicional interrompe as experiências com sons de outras latitudes, protagonizados sobretudo nos três álbuns mais recentes. "Agora que começo a ter um público que já me vai ver porque me conhece, mostro o que é a tradição." A frase é de Mariza a propósito do novo álbum a editar na próxima segunda-feira.

Nunca como nos últimos dois anos e meio, a fadista pop cantou por todo o mundo, fruto de uma alma insaciável que quase não lhe dá tréguas, ou seja, férias. É, pois, num período de menor residência em Lisboa que nasce Fado Tradicional. Simbolicamente, representa um regresso "a casa, à família e às memórias de adolescência", mas é também o reconhecimento de uma cidade "que tem sempre algo novo para quem volta", defende. "Quando passo mais de um mês fora de Portugal e sinto as rodas do avião a pisar o aeroporto da Portela, o contentamento é enorme. A alegria de partir e mostrar uma música e uma cultura é grande, mas a de regressar é maior. Significa voltar à família, à comida e à minha casa. É o meu porto de abrigo, a minha zona de conforto", constata.

Mariza invoca as memórias da Mouraria, onde frequentava a taberna Zalala, do pai para descrever o que está a viver: "As pessoas que aparecem hoje cantam uma nova Lisboa, um novo Portugal mas através da tradição. É um pouco o que acontece comigo. Eu venho com essas memórias todas, mas ao mesmo tempo cantando as minhas experiências de vida, de viagens de palcos."

Foi, aliás, um dos músicos que a acompanha que a desafiou a gravar os fados tradicionais que agora se escutam. "Na digressão do Terra, o Diogo Clemente (produtor do disco) começou a desafiar- -me com os fados tradicionais. Trazia-me fados e por brincadeira eu cantava. No Verão, desafiaram--me para gravar um álbum e era isto o que tínhamos", recorda.

Nem tudo foi pacífico nesse mergulho nas memórias mais profundas de fados que ouviu quando regressou de África como Fado Sérgio ou Boa Noite Solidão, na voz de Fernando Maurício. "Recordo-me que quando era miúda me dizerem que cantava diferente. Sempre interpretei isso como não estar a fazer bem."

Tradicional ou contemporâneo, o fado de Mariza continua a ser "muito pessoal".

"A solidão é muito cansativa"

de Miguel Azevedo
Correio da Manhã, 23 de Novembro de 2010

Mariza está de volta aos discos com ‘Fado Tradicional’, uma homenagem aos fadistas que a levaram a cantar. Para escutar ao vivo em Lisboa e no Porto.

A Mariza está de regresso aos coliseus, quinta--feira, dia 25, no Porto, e dia 29, em Lisboa. O que está a preparar para essas duas noites?
Lisboa e Porto vão ouvir os dois primeiros espectáculos de apresentação do meu novo disco, ‘Fado Tradicional', e vão ver um cenário especial, idealizado pelo Frank Gehry, que é a recriação de uma taberna intimista.

A Taberna da Mariza, portanto!?
Sim (risos), é uma taberna que nasceu há três anos em Los Angeles. O Frank idealizou esse cenário para essa noite e agora decidi trazê--lo para os coliseus.

E como é a taberna da Mariza?
É uma taberna baseada naquilo que faz parte da nossa imaginação. Afinal de contas, as tabernas não são muito diferentes entre si. A diferença entre esta taberna e a de Los Angeles é que lá estavam sentados os amigos de Hollywood e aqui vou ter os meus amigos de Lisboa.

Por que razão decidiu neste disco homenagear nomes como Amália, Fernando Maurício ou Marceneiro. Sentia-se em dívida para com eles?
Dívida não, é mais respeito. Foram essas pessoas que influenciaram a minha forma de cantar.

Está a cumprir dez anos de carreira. A Mariza mudou muito?
Estou mais velha e cansada.

Cansada de quê, de viajar?
Sim, a solidão é muito cansativa. Passamos o dia rodeados de gente, mas depois existe uma solidão enorme porque as pessoas que nos são mais próximas não estão.

Nova data no Coliseu dos Recreios

de Mário Rui Vieira
www.blitz.aeiou.pt, 23 de Novembro de 2010

Mariza vai subir duas vezes ao Coliseu dos Recreios, em Lisboa, na semana que vem: acaba de ser anunciada uma segunda data porque a primeira está praticamente esgotada. Assim, além de 29 de novembro, a fadista vai apresentar-se na sala lisboeta também a 30 de novembro.

Os bilhetes para a nova data já se encontram à venda nos locais habituais e custam entre €25,00 e €50,00. A cantora atua também no Coliseu do Porto esta quinta feira (25 de novembro) - ingressos entre €18,00 e €50,00. O início de todos os concertos está marcado para as 21h30.

Estes três espetáculos marcam o lançamento de Fado Tradicional , o novo álbum de estúdio de Mariza. O cenário das apresentações em palco foi desenhado especialmente pelo arquiteto Frank Gehry.

FADO TRADICIONAL

A tour "Terra" chegou ao fim!

Todos nós sentimos já uma saudade imensa de todos os palcos que pisamos e do quanto foram especiais todos os concertos.

Obrigada a todos que nos receberam e que fizeram com que tudo nos fosse possível.

Agora segue-se mais uma nova viagem "Fado Tradicional"!

Dez anos desde o meu primeiro disco, estou de volta as raízes.

Apresento já este disco nos Coliseus dias 25 (Porto) e 29 (Lisboa).

A viagem começa em Portugal e só depois segue o seu destino o seu Fado.

Espero por todos vós!

Até breve,


Mariza

Mariza edita novo álbum a 29 de Novembro

Diário de Notícias, 10 de Novembro de 2010

"Fado tradicional" é o título do novo álbum de Mariza, que integra um dueto com Artur Batalha, "Promete jura", e ainda temas de autoria de Fernando Pessoa, Amália Rodrigues e Diogo Clemente, entre outros.

O álbum, o quinto de estúdio de Mariza, é o primeiro produzido pelo músico Diogo Clemente, e será apresentado no Coliseu do Porto, no dia 25 de novembro, e no dia 29 no de Lisboa, num cenário desenhado pelo arquiteto Frank Gehry.

Tal como o título indica, as melodias que interpreta são fados tradicionais, casos do Fado Sérgio, a solo e em dueto com Artur Batalha, no tema "Promete jura" (Maria João Dâmaso/Sérgio Dâmaso), Fado Alfacinha para o tema de Fernando Pinto Ribeiro "As meninas dos meus olhos", ou o Fado Varela para uma letra de Diogo Clemente, "Mais uma lua".